Cientes de que um grupo de mulheres que integra a comunidade universitária tem se reunido em assembleias semanais desde março de 2017, decorrendo na criação do Coletivo de Mulheres da UnB, vimos a público manifestar nosso apoio às reivindicações em curso por um Centro de Convivência de Mulheres na Universidade de Brasília. O Coletivo de Mulheres da UnB ocupou, segundo deliberação em assembleia, a sala BT 168 do ICC Sul desde o dia 02 de maio, passando a reivindicar apoio institucional para a garantia de um espaço físico que permita a reunião sistemática e a construção de um espaço coletivo que possa vir a servir como referência a todas as mulheres da universidade para a proposição e adoção de medidas de proteção e reparação a abusos e violências recorrentes no cotidiano institucional.
Tais esforços denotam a urgência na construção democrática e participativa de estratégias de coibição, prevenção e reparação de casos de assédio moral e sexual, violência sexual e agressões físicas, tendo a UnB acumulado inclusive episódio de feminicídio no interior da própria estrutura da universidade, situação extrema da violência letal contra a mulher. Os recorrentes casos de estupros, a violência moral, a evasão escolar de mulheres vitimadas por agressões e a deterioração da saúde mental de mulheres dos segmentos de estudantes, servidoras técnicas e docentes, bem como das trabalhadoras terceirizadas justifica a imediata adoção de estratégias de segurança, fluxo de encaminhamentos para setores internos e externos à UnB na perspectiva de uma política que garanta rede de proteção e afirmação de direitos, convivência democrática e coibição de toda forma de discriminação e violência.
Respeitando a autonomia do Coletivo de Mulheres da UnB em sua decisão pela auto-gestão, solicitamos que a UnB tome as medidas necessárias para apoiar incondicionalmente este processo de organização política de mulheres na defesa de seus direitos e criação de estratégias de convivência e mobilização que rompam com a inércia institucional diante de casos recorrentes e invisibilizados de violência contra as mulheres na universidade. É necessário lembrar que a violência contra as mulheres atinge a todas, sendo elas de quaisquer faixas etárias, de quaisquer segmentos da comunidade universitária, embora vulnerabilizando especialmente jovens estudantes, mulheres em situação de vulnerabilidade econômica, mulheres negras e indígenas, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, evidentemente sem desconsiderar a gravidade da violência de gênero que recai também sobre todas as demais que não integram segmentos mais vulneráveis à violação de direitos sociais, econômicos e políticos. A falta de apoio a mulheres que cuidam de bebês e filhos pequenos, na ausência de creches e apoio institucional, é também um dos problemas persistentes que vulnerabiliza estudantes à evasão e servidoras e trabalhadoras terceirizadas à precarização das condições de vida, saúde, trabalho e convivência familiar.
Desta forma, vimos relembrar que a UnB já assumiu institucionalmente o compromisso retórico da necessária proteção às mulheres por meio da criação da Diretoria da Diversidade em 2013 e da publicação do Plano de Respeito à Diversidade em 2016, embora seja notório que tais medidas institucionais apenas reiteram a necessária e urgente construção coletiva de políticas institucionais afirmativas que estabeleçam formalmente estratégias de reparação e prevenção da violência contra as mulheres, bem como a promoção de práticas e medidas para a boa convivência de todas as pessoas no contexto universitário.
Assinam conjuntamente em 11 de maio de 2017, o Núcleo de Estudos da Diversidade Sexual e de Gênero – NEDIG/CEAM/UnB e o Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher – NEPEM/CEAM/UnB.
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